05/05/2011

Páscoa

Nossa, vejo que já saímos do tempo denominado de quaresma, (ou conhecido por pouco, ou quem sabe não conhecidos por pouco, mas) vivido por alguns (inseridos no tempo e espaço) como tempo de jejuns, penitências e orações. Adentramos agora em uma esfera litúrgica chamada de Páscoa. Não a páscoa dos chocolates, dos presentes, das festas e dos feriados, mas a Páscoa de Jesus, onde um simples Galileu que resolveu fazer algo diferente e nos mostrar esse diferente que se chama a Face do Pai e inseriu em nossa história uma visão e interpretação do que conhecemos como Deus. É essa realidade verídica que a igreja nos chama a celebrar com o coração totalmente desprendido de tudo e dos apetites deste mundo, assim termo usado por São João da Cruz, o qual se refere como apetites os pecados e vícios desse mundo.

Mas, realmente o que seria a Páscoa que mobiliza algumas pessoas e seus sentimentos fazendo assim voltarem sua atenção, carinho e para alguns até mesmo uma contrição enorme de espírito? É verídico que tantas pessoas vivem o sentido da Páscoa, mas os mesmos não sabem que quando ocorre uma mudança de ações, de atitudes de prisão (enquanto pecado), de libertação e vida nova, então sim, estamos vivendo a Páscoa. O significado mais real para conceituá-la será melhor compreendido se voltarmos ao Antigo Testamento e revermos a trajetória e libertação dos hebreus, que foram conduzidos por Moisés à terra prometida que o Senhor Nosso Deus havia preparado para eles. No Antigo Testamento a Páscoa é essa celebração litúrgica que conota um sentido de libertação (das torturas, das misérias, da escravidão) das mãos do faraó para uma vida nova que Deus tinha em seu coração, preparado para seus filhos que havia-se apartado do seu amor.

Fazemos viagens transcendentais demais para compreendermos um termo tão simples, porém desfigurado e alterado por causa das situações criadas pelos desejos dos homens, que hoje logo remete o termo Páscoa a uma mera visão mercantilista, movendo ao seu derredor toda uma estrutura de interesses comercias à base de chocolates e brinquedos. Não precisaríamos ir tão longe para vivenciarmos a nossa própria experiência pascal, quando realmente estamos desejosos de fazermos a nossa travessia pelo mar vermelho (conotação essa referida ao povo que foi libertado por Moisés atravessando o mar vermelho em busca da terra prometida) que o mundo que Deus gostaria que nós vivêssemos, por que o mesmo já está construído.
A Igreja Católica Apostólica Romana celebra vivamente esse momento festivo trazendo o passado para o real presente, fazendo assim cumprir o próprio mandamento de Jesus, que é a partilha do pão com os outros.

Na quinta-feira, iniciamos com o dia em que o próprio Jesus institui a Eucaristia (para melhor compreensão, o dia em que Jesus celebra sua primeira missa) e ordena aos seus discípulos a missão de fazerem isso em sua memória. Nesse mesmo espaço de tempo, Jesus lava os pés dos discípulos com um gesto de humildade e ensina aos seus a também fazerem o mesmo.  Esse, com certeza, é um dia de grande sofrimento interior em Jesus por saber que a morte se aproxima e o tempo se tornou pouco para salvar mais almas. É nessa Santa Ceia que Jesus pronuncia a benção sobre o Pão e o Vinho. Eis que Jesus quer comer sua Páscoa com os seus e assim o faz. Não a mesma Páscoa vivida pelos judeus, mas a sua Páscoa, dando um novo sentido a mesma, porque o próprio Jesus se torna o Cordeiro imolado que os judeus costumavam matar para comer em suas celebrações pascais.

Já a sexta-feira o dia da entrega e da morte de Jesus, o dia de maior injustiça do homem com Deus, pois a própria humanidade assassina a essência do autor da vida que se permite morrer para nos oferecer a vida eterna. A data dos ultrajes (cuspiram Nele, bateram em sua Santa face...) das humilhações, das blasfêmias, de tantas outras atrocidades, e como se não fosse suficiente, levaram-no à morte de cruz. Estilo de morte empregada para os piores de todos os crimes. O que fez Ele para merecer tudo isso? Verdadeiramente, é um momento para os cristãos católicos, de muita oração e reflexão sobre nossa vida, pois é o dia onde o Filho de Deus agoniza até a morte, estendido num madeiro como um criminoso.

No sábado santo,o dia em que toda a Igreja, povo de Deus, vive um momento chamado de Vigília Pascal; onde nós cristãos católicos aguardamos com orações e com o coração contrito a vitória de Cristo sobre a morte, e com isso, a vitória de Cristo sobre a nossa morte. Pois com sua morte, a morte veio ao fim e hoje não somos mais escravos da mesma. O sábado santo nos remete ao tempo de oração e de espera no Senhor. Porque a Igreja vive um silêncio, e através das leituras que nos remetem a experiência do povo de Deus no Antigo Testamento, assim também como no Novo Testamento. Há um recolhimento mais visível na sexta-feira, onde os cânticos ganham entonação e conotação mais sofridos, nos remetendo ao sofrimento de Jesus.

Entretanto, o ápice da celebração Pascal ganha seu sentido, força e alegria na Ressurreição de Jesus, quando o Filho de Deus vence a morte libertando-se dos grilhões da mesma, trazendo a vida para toda a humanidade. Eis que a morte foi vencida pelo Senhor da vida, pelo Senhor da vida! Tudo isso acontece no Domingo de Páscoa, onde Deus irrompe o tempo e a história, fazendo desse dia o Dia do Senhor! Para nós, cristãos católicos, esse passa a ser o dia em que guardamos com maior atenção e respeito, pois é o dia dedicado ao Senhor. Pelo menos, deveria ser. É dia onde a família se reúne ao redor da mesa para partilhar as alegrias e o pão como igreja doméstica. É dia também (mais forte) para toda a família ir à igreja para louvar e agradecer a Deus por tudo de bom que nos tem dado. Dia de louvar, dia de se colocar em oração e como oferenda a Deus por seu gesto de amor por nós.

Páscoa é tudo isso e um pouco mais. É essa libertação que somos convidados a celebrar empolgados e imbuídos pelo Espírito Santo de Deus. É a mudança de vida que devemos almejar para darmos continuidade ao que o próprio Jesus veio fazer por nós. É hora de mudar de vida e ver se estamos priorizando outros valores que realmente não tem seu verdadeiro significado que corresponda a essência dos conceitos instituídos e compreendidos por Deus. Páscoa pode e deve ser todos os dias quando não nos afastamos do nosso Criador que sofre ao ver nosso distanciamento e nossa escolha muitas vezes errada. É mister que nossa transformação tem um sabor melhor dos que os mais variados  e refinados chocolates que são colocados à nossa disposição degustativa. Não nos permitamos adiar nossa Páscoa. Não nos permitamos adiar nossa vida.

Feliz Páscoa para todos!

“Páscoa...
É ser capaz de mudar,
É partilhar a vida na esperança,
É viver em constante libertação,
É crer na vida que vence a morte.
É dizer sim ao amor e à vida,
É investir na fraternidade,
É vivenciar a solidariedade.
É renascimento, é recomeço,
É vermos que hoje...
somos melhores do que fomos ontem.”

Fonte: Pe. Paulo

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